Pauta identitária deu vitória à direita no Equador

Pauta identitária deu vitória à direita no Equador

Contrariando as previsões da maioria das pesquisas eleitorais no Equador, no último dia 12/4 o candidato da extrema direita, o banqueiro Guillermo Lasso (foto), venceu as eleições presidenciais no pleito naquele país, derrotando o candidato da esquerda socialdemocrata, o correísta Andrés Arauz. Guillermo Lasso obteve 52,5% dos votos, contra 47,5% de Arauz.

O resultado da eleição no Equador pode em muito ser explicado pela postura assumida no segundo turno pelo candidato Yaku Pérez, do partido indigenista Pachakutik, que praticamente “se retirou” da disputa ao criticar os dois candidatos (Lasso e Arauz) por não assumirem as bandeiras identitárias de seu partido — na verdade, uma ONG —, produzindo um discurso oportunista e demagógico que indiretamente jogou água no moinho de Guillermo Lasso, possibilitando assim a vitória do banqueiro de extrema direita. Tanto é assim que, no primeiro turno, o candidato de Rafael Correa (Andrés Arauz) havia obtido 32% dos votos, contra 19,5% de Guillermo Lasso e 19,3% de Yaku Pérez.

A postura de Yaku Pérez no segundo turno e sua decisiva contribuição para a vitória da extrema direita no Equador mostram até que ponto são deletérias e nefastas as consequências das pautas identitárias para os trabalhadores. Ao negar apoio a Andrés Arauz, por exemplo, Yaku Perez o fez a partir da afirmação de uma suposta identidade indígena que, na prática, nada mais é que a negação da condição proletária de classe. A fragmentação da consciência de classe. A divisão do proletariado em segmentos — como indígenas, negros, mulheres, LGBT etc. Segmentos que, inclusive, se antagonizam, facilitando assim a reprodutibilidade da dominação política e ideológica da burguesia.

Construídas a partir da lógica de integrar segmentos da população ao capitalismo, as pautas identitárias estimulam, no seio do proletariado, uma espécie de egoísmo corporativista que cria a ilusão de que tais lutas fragmentárias teriam um caráter “libertário”. Mas elas não têm (e nunca tiveram) esse caráter. Ao contrário, as lutas identitárias e fragmentadas são antirrevolucionárias, anti-proletárias, conservadoras e, portanto, hostis ao desenvolvimento de uma genuína consciência de classe proletária. São inimigas de uma consciência que considere a contradição capital X trabalho como a principal contradição a ser superada no interior das formações sociais capitalistas.

Não é à toa que, cada vez mais, a mídia burguesa aplaude e celebra a emergência e as mobilizações de movimentos sociais identitários e desconexos entre si, como acontece com a maioria esmagadora dos movimentos negros, de mulheres, indígenas e LGBT da atualidade. Movimentos que, em suas manifestações públicas, inclusive estimulam uma imensa máquina de consumo capitalista cujos produtos e serviços são voltados exclusivamente para cada um dos grupos identitários existentes. Consequência direta do caráter integracionista, conservador e antirrevolucionário de tais movimentos.

Quando Marx e Engels dirigiram-se ao proletariado mundial, no Manifesto Comunista de 1848, eles o fizeram a partir da afirmação da consciência de classe, da condição proletária, como a base essencial de identificação entre todos (repetimos: todos) os trabalhadores. Marx e Engels disseram ‘Proletários do mundo, uni-vos’. Eles não disseram ‘Indígenas do Mundo, uni-vos’; não disseram ‘Negros do Mundo, uni-vos’; e também não disseram ‘Mulheres do mundo, uni-vos’.

Claro que, socialmente, o proletariado é dividido em determinados segmentos, como os de negros, indígenas, homens, mulheres, LGBT etc. Mas devemos entender que cada um desses segmentos não constitui, por si ou separadamente, a identidade essencial dos seus membros enquanto trabalhadores, enquanto proletários. Ou seja: como a classe que vive da venda de sua força de trabalho ao capital, como a classe que, lutando pela revolução, não tem nada a perder, mas tem um mundo a ganhar.

Nós, do MM5, achamos essencial que as lutas contra o racismo, as discriminações de gênero, as discriminações contra os homossexuais e contra etnias devem ser realizadas e apoiadas, mas desde que tais lutas sejam articuladas a partir de uma genuína consciência de classe, uma consciência que unifique todos esses segmentos a partir da condição proletária e da luta primordial contra a exploração capitalista e pela superação desse modo de produção. Somente a partir dessa perspectiva proletária e classista é que tais lutas vão assumir um caráter verdadeiramente libertador. Esta é a diferença essencial entre as pautas identitárias e as reivindicações próprias de segmentos do proletariado que, enquanto tais, devem ser parametrizados e unificados a partir da consciência de classe proletária.

Pautas identitárias não transformam em nada a sociedade capitalista. Ao contrário, as pautas identitárias reificam a sociedade capitalista e sua intrínseca lógica de consumo e dominação político-ideológica. Um dos maiores exemplos é o que ocorre nos EUA, país onde os movimentos identitários são dos mais ativos no mundo: as mobilizações de massa dos movimentos negros contra a violência policial ocorridas recentemente naquele país, por exemplo, levaram milhões de pessoas às ruas, nas principais cidades norte-americanas. O resultado foi, no máximo, a condenação de um policial que assassinou o trabalhador George Floyd. Nada mais acontecerá além disso, uma vez que as mobilizações dos movimentos negros dos EUA contra a violência policial não lutam contra a sociedade capitalista e suas engrenagens que, todos os dias, e de forma estrutural, produzem mais e mais racismo, mais e mais violência policial, mais e mais discriminações contra mulheres e segmentos LGBT.

Para nós, marxistas leninistas, é preciso denunciar a fraude e o caráter impostor assumido pelas pautas identitárias, que cada vez mais estão a serviço da contrarrevolução e da reação burguesa.

Venceremos!

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