Guardadas as devidas proporções e especificidades históricas, os acontecimentos do último domingo (19/4) pelas ruas das capitais e mais algumas cidades do Brasil lembram a Marcha Sobre Roma, em 29 de outubro de 1922, quando dezenas de milhares de italianos, trajando camisas negras, provenientes de praticamente todas as cidades do país, marcharam sobre Roma para impor ao rei Vittorio Emanuelle III a nomeação de Benito Mussolini como primeiro-ministro. Iniciativa coroada de sucesso. E o fascismo, assim, assumia o poder na Itália, em um golpe de estado original que traria graves, gravíssimas, consequências ao panorama político do país e do mundo, entre as quais a subida de Hitler ao poder na Alemanha, em janeiro de 1933. Uma derrota histórica do proletariado.
Domingo passado, ruas e avenidas do Brasil foram tomadas por carreatas compostas por um sem número de veículos de luxo e também dos assim chamados carros populares, na maioria devidamente fantasiados de verde-amarelo, ostentando bandeiras, buzinando e berrando a plena voz vivas a Bolsonaro. Em Brasília, uma manifestação em frente ao Comando do Exército juntou um bando de radicais de extrema direita, clamando por um AI-5 e lançando imprecações contra o Congresso Nacional, o STF e, especialmente, o governador paulista João Dória. Na cabeça, a mesma ideologia dos fascistas italianos de praticamente um século atrás, apenas com as camisas negras substituídas por camisas verde-amarelas.
É preciso entender o que aconteceu, o que está acontecendo e o que poderá acontecer. Em primeiro lugar, acreditamos, estamos frente a um processo de preparação de um golpe fascista no país – que cremos não poder concretizar-se na atual conjuntura. Como um bom deficiente mental que é, Bolsonaro não vê diferença entre o que ele quer e o que existe na realidade concreta.
Mas o fato é que, como assinalamos no último texto que postamos neste site, Bolsonaro perdeu uma oportunidade que o inesperado lhe jogou no colo, a oportunidade de navegar na onda da Covid-19 para aglutinar forças políticas reais no médio e no longo prazos na linha da instalação do fascismo no país. Algo como preparar a reeleição em 2022 e, aí sim, encaminhar concretamente o golpe fascista. Mas o fascismo sempre tem pressa, a irreflexão e o voluntarismo são também sua marca. Às vezes dá certo, às vezes não, sempre a depender da correlação de forças políticas, organizatórias e ideológicas entre burguesia e proletariado.
Depois de devidamente patrolado pelo governador de São Paulo João Dória – um canalha cevado na esperteza e na malandragem a fazer inveja a um batedor de carteira de rodoviária –, só restava e só resta mesmo a Bolsonaro tentar juntar afoita e desesperadamente forças para seu golpe fascista já. Mas não o conseguirá nesta conjuntura, repetimos. A criação de falsos inimigos (no caso, o STF e o Congresso Nacional), a exemplo das risíveis “forças ocultas” inventadas por Jânio Quadros em sua fracassada tentativa de golpe em 1961, não tem chão material para prosperar, dado que aquelas instituições mantêm sua legitimidade social, sem sintomas de esgarçamento que as desmoralizassem e abrissem espaço político-social para seu fechamento – com “um cabo e dois soldados”, como garantiu um dos facínoras filhos do presidente.
O apoio de uma vasta classe média e de segmentos significativos do proletariado (em que se incluem as seitas neopentecostais) não tem peso militar para um golpe hoje. Nas forças armadas, sua alegada e ainda não comprovada penetração na média oficialidade seria igualmente insuficiente para um golpe fascista. Não há inimigos comunistas a combater, até mesmo os fantasmas invocados pelos fascistas são por demais pálidos e inofensivos. Enfim, não há na conjuntura fatores materiais e ideológicos de mobilização desta chamada jovem oficialidade em direção a um golpe fascista. O mesmo pode-se dizer dos velhos generais, que o próprio Bolsonaro se encarregou de dividir. Com ele, somente alguns decrépitos que muito ladram, mas não têm mais dentes para morder.
Para a esquerda marxista, a conjuntura atual é ainda de acumulação de forças no seio do proletariado. Na hipótese do advento de uma situação conjuntural de curto prazo em que a questão do poder seja realmente colocada em jogo, uma situação em que a esquerda seja chamada ao campo de batalha, inclusive militarmente, temos que combater duramente as alternativas democráticas que a esquerda pequeno-burguesa (reformistas, trotskistas, gramscianos) sempre apresenta e defende – alternativas burguesas para uma crise da burguesia. O Movimento Marxista 5 de Maio-MM5 só tem e terá uma consigna: Todo Poder ao Proletariado!
Venceremos !