Ao abrir o texto de ‘O 18 Brumário de Luís Bonaparte’ (1852), Karl Marx afirmou que em alguma passagem de suas obras, Hegel comenta que todos os grandes fatos e todos os grandes personagens da história mundial são encenados, por assim dizer, duas vezes. Mas que Hegel se esqueceu de acrescentar: a primeira vez, como tragédia. A segunda, como farsa.
No Brasil de 2020, foi mais uma vez o que se viu na recém-concluída eleição burguesa para prefeitos e vereadores. Mais uma vez a história se repetiu como teatro farsesco e decadente cujo único objetivo é enganar e iludir o proletariado com as mais fantasiosas promessas de “redenção”.
Guilherme Boulos, candidato do PSOL que disputou o segundo turno das eleições em São Paulo, é atualmente a encarnação mais completa dessa farsa.
Com uma campanha política pautada pela mais absoluta megalomania e desonestidade, Boulos não economizou na apresentação de promessas mirabolantes de “felicidade eterna” e de construir o verdadeiro “paraíso” na Terra. Um exemplo emblemático foi quando prometeu fazer de São Paulo uma “cidade antirracista”, coisa que ele de antemão sabe ser impossível, uma vez que o racismo possui causas históricas e estruturais que só podem ser modificadas ou suprimidas a partir de uma revolução proletária.
A demagogia do candidato do PSOL, contudo, chegou ao paroxismo logo após ele ter sido diagnosticado com covid-19, ocasião em que gravou e espalhou um vídeo pelas redes sociais. Na lamentável gravação, Boulos aparece em casa, lavando louça, numa cena meticulosamente preparada para fazer com que ele parecesse um “homem comum”, um “homem do povo”. Algo muito semelhante ao que fazia o então candidato e demagogo Jânio Quadros, durante as eleições presidenciais de 1960, quando jogava talco nos próprios ombros para simular caspas. Pura vigarice.
Boulos é um desses messias que, de tempos em tempos, aparecem na política brasileira prometendo aos trabalhadores a recuperação de sua “felicidade” e “dignidade”, o que é de uma crueldade e perversidade sem tamanho.
Com Guilherme Boulos, a história se repete como farsa porque Boulos é uma repetição farsesca da trajetória de Luis Inácio Lula da Silva, mas em forma de comédia. Boulos é, na verdade, um Lula vestido de palhaço e de promessas messiânicas. Vejamos.
Ao contrário de Boulos, Lula ao menos surgiu, no final dos anos 70, como liderança de um movimento sindical combativo e genuinamente proletário. Um movimento pautado por reivindicações proletárias — como aumento de salário, garantia no emprego, redução da jornada de trabalho, direito de greve, assistência médica, mais escolas — e com ramificações em Minas Gerais e Pernambuco. Um movimento que marcou um significativo momento da história brasileira, despertando sonhos verdadeiros e autênticos da classe trabalhadora. Essa autenticidade não poderá jamais ser negada pela história, mesmo considerando as posteriores deformações e degeneração por que passaram Lula e o PT.
Contrariamente a essa trajetória, Boulos e seu partido, o PSOL, já nasceram diretamente farsescos e sem nenhuma vinculação concreta com as lutas e mobilizações proletárias. Nasceram, isto sim, vinculados a uma base social pequeno-burguesa, decadente e eivada do mais repugnante oportunismo eleitoral.
Como todo messiânico que anuncia “um novo tempo” para a classe trabalhadora, Boulos é atualmente um dos demagogos mais perigosos para a luta de classes no Brasil. E o mesmo pode ser dito sobre o PSOL, cuja trajetória seguirá o caminho de decadência já trilhado pelo PT, mas de forma ainda mais degenerada.
Importante destacar que a democracia é o chão onde aparecem demagogos e oportunistas como Guilherme Boulos. Afinal, a democracia serve é para isto: iludir o proletariado com promessas vãs de “redenção” por meio do voto nas urnas.
A nós, comunistas, cabe denunciar a história repetida em forma de farsa. Denunciar a mistificação que representa a figura de Guilherme Boulos e todos os reformistas do mesmo quilate.
Venceremos!