O Cabo das Tormentas de Bolsonaro

O Cabo das Tormentas de Bolsonaro

Em todas nossas publicações temos insistido em que o governo Bolsonaro vem convivendo com uma forte crise interinstitucional que assola o estado brasileiro, marcada pelo permanente desentendimento entre as instituições que o constituem: os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário jamais estiveram em posições tão adversas. No caso do executivo e do judiciário pode-se falar em um antagonismo ao nível de inimigos em guerra. Se o despacho do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), anulou os processos tramitados na 13ª Vara da Justiça Federal de Curitiba que condenaram o ex-presidente Lula — tornando tais condenações revogadas —, a deliberação da 2ª Turma do mesmo STF, considerando haver o juiz Moro agido de forma parcial naqueles processos, caracterizou um verdadeiro soco na ponta do queixo de Bolsonaro, levando-o a knockdown: Lula tornou-se oficial e irrecorrivelmente elegível, apto pois a concorrer à cadeira presidencial em 2022. Pânico no Palácio do Planalto.

Na realidade, a barca de Bolsonaro vem enfrentando dificuldades desde o início do mandato, em janeiro de 2019, principalmente advindas de desentendimentos internos referentes ao que fazer (e quem fazer) nas áreas administrativa, política e econômica. Com o início da pandemia, que podemos datar de março do ano passado, a desestabilidade da nau bolsonarense adentrou águas turbulentas como aquelas do Cabo das Tormentas descritas pelo poeta Luís de Camões em seu épico “Os Lusíadas”, local ao extremo sul da África, no encontro dos oceanos Atlântico e Índico, em que muitos e muitos navegadores haviam perdido navios e homens, despedaçados todos contra os rochedos aos quais o gênio português Camões caracterizou como o gigante mítico Adamastor. A nova realidade, a nova conjuntura: a barca fascista de Bolsonaro se debate apavorada no Cabo das Tormentas. Conseguirá o serial killer bater Adamastor?

Em seguida às deliberações do STF, em ordem de importância e peso, vem o manifesto dos empresários exigindo de forma veemente um plano sério de vacinação e deixando claros sinais de um descontentamento agudo com o governo, ameaçando-o veladamente de iniciativas para desconstituí-lo. Que não se esqueça de que foram os signatários deste mesmo manifesto (hoje já em número superior a 1.500 assinaturas) que depuseram Dilma e elegeram Bolsonaro. Muitos hão de se lembrar dos anúncios de duas páginas coloridas inteiras publicadas em grandes jornais assinadas por todas entidades empresariais do país exigindo aos berros amarelos o impeachment de Dilma Rousseff. Hoje, tais madalenas arrependidas esbravejam com seu ídolo de ontem. La nave va. No Congresso Nacional os parlamentares seguem os caminhos dos ratos ao perceberem o navio fazendo água. Os paus-mandados presidentes da Câmara e do Senado assumem a falsa postura de pessoas  adultas e despejam ameaças veladas em busca de mais poder e dinheiro, bêbados de vaidade e sedentos de glórias. É a voz do tal Centrão, velho conhecido da política nacional: um grupo permanente de homens e mulheres caracterizados por um oportunismo de fazer inveja a Judas Iscariotes. Sempre ao lado do poder, beliscando benesses aqui e ali, os membros do Centrão identificaram logo a oportunidade de … ganhar mais algum, digamos.

O mar segue revolto no Cabo das Tormentas. E o STF salta do barco. O voto da ministra Carmen Lúcia foi emblemático da falta de princípios majoritária  na mais alta corte do país: se para ela em 2018 Lula era um ladrão irrecuperável que devia ser duramente castigado com bons anos de cadeia – e assim ela votou então –, agora a deplorável senhora passou a ver crime naquele que sentenciou Lula, o espertalhão Sérgio Moro.

De passagem: aprofunda-se a crise econômica, mundial e nacional, que não tem nada de nova, apenas que agora ainda mais agravada pela pandemia.

Com o espantoso crescimento do número de casos e de mortes diárias no país  – já, respectivamente, na casa das 300.000 e das 3.000 pessoas ao dia –, o capitão Bolsonaro percebe que a água já lhe molha os pés. É preciso fazer alguma coisa para acalmar Adamastor. Primeiramente, coloca nas ruas suas tropas de fascistas e meliantes devidamente fantasiados de roupas verde-amarelas. Não deu muito certo. Demite o general Pazuello do Ministério da Saúde e o indica a comandar um novo ministério, o da Amazônia. Bolsonaro sabe que seu projeto de implantar fascismo no país – do qual nunca desistiu nem desistirá – exige o apoio de forças armadas formais, como já abordamos neste espaço. Por fim, o genocida de triste e cruel figura passa a ‘acreditar’ firme e religiosamente na vacinação como caminho de combate à pandemia, ele que há pouco menos de duas semanas dizia não passar de “frescura” qualquer preocupação de enfrentamento sério da doença.

E a esquerda, a maioria da esquerda brasileira?

Em um momento em que as instituições do estado capitalista se enfraquecem e tropeçam umas nas outras, em que a ausência de uma liderança burguesa é escancarada, em que a crise econômica se aprofunda e a fome literal invade os lares dos trabalhadores, em que se enfraquece a capacidade de ação dos capitalistas e seus agentes no estado e fora dele, neste exato momento, a maioria imensa da esquerda brasileira se apressa a salvar o estado burguês. Concordando com a burguesia em que Bolsonaro deve apear-se do poder, esta ridícula esquerda pede tudo aquilo que a burguesia sempre pediu, a esquerda torna-se porta-voz do interesse político maior das classes dominantes de sempre e de hoje: preservação do estado burguês e da sociedade burguesa. E, sem vergonha e sem cerimônia, tal esquerda decrépita empunha galhardamente as bandeiras da democracia, das eleições gerais, de uma constituinte e quantas mais consignas possam dar corpo à traição de classe. É disso que se trata.

O Movimento Marxista 5 de Maio-MM5 sempre se recusou a participar deste tipo de festival de confraternização com os inimigos do proletariado.

Que o proletariado seja uma tormenta eterna para a burguesia!

Afundemos a nau bolsonareana e seus burgueses!

Nossa meta estratégica é a revolução socialista!

Nossa consigna para o momento é: Greve Geral!

 

Venceremos!

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